domingo, 31 de março de 2024

O que se pode tirar do 10 de março

 


Manuel Raposo
30 Março 2024
 


 

 

 Os excluídos do "milagre económico".Manifestação em Lisboa, janeirode 2024

  

O que se pode tirar do 10 de março.

O resultado das eleições de 10 de março não pode ser entendido sem olhar para os frutos do acordo governativo de 2015 e para o que sucedeu nas eleições de 2019 e 2022. Em março passado deu-se o desenlace de um curso político já evidenciado nos últimos cinco anos – e não a inesperada “viragem à direita” que todos os comentários (inclusive da esquerda parlamentar) afectaram ver com surpresa. Os factores que produziram a vitória da direita, considerada em conjunto, e o apagamento da esquerda parlamentar estavam anunciados desde o final do primeiro governo de António Costa.

As notas seguintes retomam, por isso, uma parte dos argumentos que aqui apresentámos em 2019 e em 2022 comentando os resultados das eleições desses anos – quase unanimemente exaltados então como vitórias da esquerda.

Empate no “arco governativo”, declínio do “centro”

O empate verificado em 10 de março entre PS e PSD (as sobras do CDS pouco contaram para o resultado da AD) não deixa de ser surpreendente: um PS dado como desgastado por oito anos de governo ficou ao mesmo nível de uma coligação que prometia uma viragem e vida nova para o país! Deduz-se que a desgraçada memória do governo PSD-CDS, fiel mandatário da Troika, não desapareceu totalmente. E, pelos vistos, as ajudas de campanha personificadas por Passos Coelho, Cavaco, Ferreira Leite, Durão Barroso, e demais velharias da direita, acabaram por dar amparo político e votos… ao Chega.

Somados, PS e AD tiveram 56% dos sufrágios, quando antes recolhiam entre 65% e quase 80%. Isto revela que as forças consideradas “do centro” continuam gradualmente a perder apoios. Os grandes partidos que durante 50 anos foram os principais esteios do regime (político, económico, institucional) perdem crédito.

Pelos números e pela lógica política, tudo indica que o PS perdeu votos para a AD (mascarando o fiasco da aliança PSD-CDS) e esta alimentou o crescimento da IL e do Chega. 

Parte da base de apoio dos partidos do “centro”, os sectores pequeno e médio burgueses (pequenos e médios proprietários, profissões liberais, quadros superiores, assalariados de maiores rendimentos) deslocaram-se mais para a direita, arrastando consigo camadas populares (esta é que é a parte trágica da questão) e contribuindo para a subida considerável da extrema-direita.

Este facto, por revelar uma tendência de fundo, tem de ser radicado na decadência do sistema capitalista, acentuada a partir da crise de 2008-2009 e da qual nunca recuperou nem tem perspectivas de recuperar. Entende-se que esta decadência tende a diminuir os privilégios (desde logo económicos, mas também de posição social) das classes intermédias, para as quais se torna assim atractivo um regime “mais firme”, que ponha “ordem na casa”, inclusive à custa de restrição das liberdades públicas. Um regime que salvaguarde a posição social das classes médias, à custa de manter a condição subalterna das classes trabalhadoras. 

Não por acaso, as lágrimas da direita (PS incluído) vão para “a classe média”, e não para a classe operária e para a massa assalariada mais pobre, de longe a mais prejudicada pela quebra das condições de vida – primeiro com os PEC do tempo de Sócrates, depois com a Troika, depois com a pandemia e mais recentemente com a inflação.

Apagamento da esquerda parlamentar

Não é difícil perceber a quebra da esquerda parlamentar se passarmos o filme rápido dos últimos quinze anos.

Cena 1. Os Programas de Estabilidade e Crescimento (!) dos governos de Sócrates (2005-2011), impostos pela UE na sequência da crise mundial de 2008, degradam violentamente as condições de vida da população trabalhadora. Crescem os protestos de massas. A crise da dívida do Estado faz cair o Governo.

Cena 2. Sob tutela da Troika, a direita PSD-CDS põe em prática (2011-2015) um programa brutal de direcção única: sacrificar o trabalho, salvar o capital do colapso. Sucessivas manifestações populares de grandes dimensões desgastam o governo, ministros são perseguidos na rua e em actos públicos. A direita perde a maioria nas eleições de 2015.

Cena 3. Do novo governo PS (com apoio do PCP e do BE, 2015-2019) espera-se uma mudança de política que ponha fim aos desmandos de Passos e Portas. Mas o movimento de massas que tinha crescido anteriormente é amortecido em nome da estabilidade governativa. Nenhum apelo para que prossigam as acções de rua, as lutas sindicais quase desaparecem. Tudo fica na expectativa de negociações e acordos parlamentares. Os dirigentes do PCP e do BE alimentam a ideia de que não se pode ter tudo de um dia para o outro, secundando a política “gradualista” de António Costa. 

O Governo, em vez de ser apertado pela acção de rua e de massas – que pelo menos teria condições para lhe arrancar mais concessões – fica de mãos livres durante quatro anos para aplicar o mínimo de medidas sociais que silenciem os trabalhadores e não assustem nem os patrões nem a UE. Os pequenos ganhos obtidos pelos assalariados ficam muito aquém das perdas sofridas durante o governo da Troika. 

Cena 4. Interrompido o impulso de luta de 2011-2015, a massa trabalhadora fica na dependência das promessas do PS. Continuar o que vinha de trás é a ideia mestra da campanha do PS, do PCP e do BE nas eleições de 2019. Sem surpresa, António Costa ganha à custa dos seus parceiros de governo. Dadas como uma “vitória da esquerda”, só porque o somatório PS-PCP-BE manteve maioria, escondiam na verdade uma primeira derrota da esquerda parlamentar em favor do PS, e anunciavam uma recuperação da direita e da extrema-direita.

A despolitização do eleitorado popular e trabalhador é patente. A ideia de defesa de interesses de classe, já de si debilitada, vai-se dissolvendo ainda mais por falta de acção de massas e de plano político para pressionar o Governo, restando a esperança de que as negociações parlamentares e a boa-vontade de António Costa resolvessem os problemas. 

Uma parte desse eleitorado, o mais destituído de espírito de classe, o mais desesperado – muito dele formado por proletários postos à margem do mundo do trabalho – deixa-se cativar pela demagogia da extrema-direita. Chega e IL crescem de votação e elegem deputados.

Cena 5. Constatando que perdem apoios e influência política, PCP e BE distanciam-se do PS e chumbam o OE para 2022. Muito do eleitorado popular e trabalhador, levado a depositar esperanças nos méritos da chamada “geringonça”, não percebe por que razão BE e PCP retiraram apoio a António Costa quando tinham sido eles a tornar viável e a promover a política de melhorias a conta-gotas, com sacrifício das lutas de classes.

Na ideia de levar a direita ao poder, Marcelo dissolve o parlamento. Engana-se. A maioria absoluta obtida pelo PS (janeiro de 2022) marca o culminar da popularidade de Costa e o fim de qualquer acordo governativo à esquerda, formal ou informal. O PS não precisa de apoios parlamentares nem de compromissos. António Costa anuncia que não fará acordos “preferenciais”, significando que quer ter mãos livres para acertos com a direita. Assim sossega o patronato e a UE.

Cena 6. Esta nova “vitória da esquerda” mascara uma forte deslocação do eleitorado para a direita. A esquerda parlamentar fica esvaziada e impotente.

Lutas reivindicativas ganham novo alento. Mas a maior parte dos movimentos mobiliza sectores de assalariados do Estado (professores, médicos, enfermeiros, forças repressivas) e mais tarde pequenos e médios agricultores. A direita estimula e aproveita estes movimentos para fustigar politicamente o Governo e o PS e promover a privatização de serviços públicos (Saúde, banca, TAP).

Os assalariados mais pobres e o operariado permanecem silenciosos, apesar de terem sido os mais penalizados com a pandemia e o disparar da inflação. Esfuma-se a ilusão com aquilo que tinha sido vulgarizado como um “governo de esquerda”. 

(Mesmo assim, o Governo não caiu por motivos políticos, como a direita procurou fazer crer. Foi levado à demissão por um golpe extra-político com origem no Ministério Público a que o presidente da República deu passagem.)

Epílogo. Nos dois últimos anos, o “milagre económico português” (Paul Krugman) ilude uma quebra regular das condições de vida dos trabalhadores. As camadas mais baixas da população enfrentam emprego precário, aumento da pobreza, inflação (com especial carestia dos bens alimentares), degradação dos serviços sociais. O êxito económico satisfaz o capital e os grupos de maiores rendimentos, mas é fictício se for escrutinado classe social a classe social.

Esta realidade revolta sobretudo as camadas mais pobres da população, que não encontram, contudo, meios de expressão política. 

A direita e a extrema-direita cavalgam este descontentamento. O caminho foi-lhe facilitado pela falta de uma oposição popular (antes de mais, de base proletária) que se mostrasse politicamente determinada a enfrentar o capital, as suas instituições e as suas manobras de esmagamento das classes trabalhadoras.

Novo impulso do novembrismo

O alvo comum da campanha de toda a direita foi acabar com “o socialismo”. Ora, toda a gente na direita sabe que o “socialismo” do PS não passa de uma vaga promessa de reformismo que os senhores do capital, mesmo desconfiados, suportam com bonomia desde que isso lhes dê paz social (a “estabilidade” é isso) para prosseguir os negócios. 

O alvo anunciado é o “socialismo” do PS, mas o alvo real continua a ser o mesmo de há 49 anos: as classes trabalhadoras.

O ataque concertado “ao socialismo” mostra que a direita já não acha que tenha de depender dos serviços do PS. Ao procurar abater o imaginário “socialismo” de António Costa, a direita procura romper a aliança formada no verão de 75 por julgar chegado o momento de dar novo impulso à contra-revolução então iniciada. A emergência da IL e do Chega traduz este facto tanto no plano da organização partidária como das ideias. O propósito de fazer do 25 de novembro uma comemoração oficial é um exemplo.

Classe contra classe

Isto dá-nos um sinal preciso acerca do posicionamento das classes sociais, que é este: o poder burguês de hoje tem na mão as classes médias, absorve com maior ou menor esforço financeiro as suas exigências salariais, não teme as manifestações populares brandas e apolíticas que mal o têm importunado – e pensa, assim, poder remeter o proletariado e as demais classes trabalhadoras à miséria, ao silêncio e à irrelevância política.

É contra este plano político, insistimos, que as lutas sociais dos trabalhadores têm de se erguer em plano igualmente político

Reduzir a acção dos trabalhadores à (em si, justíssima) reivindicação de habitação, saúde, etc. – como o PCP e o BE fizeram durante a campanha eleitoral, e insistem em fazer mesmo depois dos resultados desastrosos que tiveram, por acharem que isso é que é “concreto”, que isso é que “diz algo às pessoas” – é linha de curto alcance. Ignora a necessidade de responder à política de classe da burguesia com uma política de classe anticapitalista. Será essa política anticapitalista, conduzida pelos trabalhadores mais esclarecidos e combativos, que poderá desencadear um movimento que integre de modo eficaz todas aquelas reivindicações, e não o contrário.

O que a realidade aconselha

A burguesia não desleixa a luta de classes. A ofensiva desencadeada nos anos de Passos e Portas, sob tutela de Cavaco, é, nas condições de crise arrastada vivida pelo capital, o seu modelo de luta contra o trabalho. O combate político, a luta de classes, vão por isso mesmo acirrar-se – e a recomposição de forças na direita é disso sinal claro.

O conhecimento dos anos passados diz-nos alguma coisa: que uma maioria parlamentar é fraca protecção, que no terreno das instituições ganha quem governa, que a dependência perante o PS amarra os trabalhadores aos planos do capital e do patronato, que “contas certas” é uma forma de pôr o trabalho a pagar as dívidas do capital, que “milagre económico” pode querer dizer piores condições de vida. 

Enquanto a massa trabalhadora aceitar ser usada como força de pressão para arrancar concessões através do PS, a sua autonomia política, a sua capacidade para marcar o rumo do país serão nulas. E o campo ficará aberto para que a direita, o patronato, as classes dominantes extremem as suas posições políticas.

 

Via " jornalmudardevida.net"

sábado, 30 de março de 2024

Dividir para reinar: Política de Identidade ou Política de Classe?

 Dividir para reinar

 
 Quais são as origens da política de identidade? E por que são tão hostis à luta da classe trabalhadora pelo socialismo?

 

A capa do nosso panfleto sobre política de identidade apresenta uma foto do famoso monumento soviético 'Trabalhador e Mulher Kolkhoz', da escultora Vera Mukhina. Originalmente exibida na Feira Mundial de Paris em 1937, esta enorme escultura em aço incorpora o espírito de homens e mulheres socialistas que constroem juntos um novo mundo.

Baixe uma cópia digital deste livro.

Encomende uma cópia física em nossa loja.

 

 Livro: Política de Identidade ou Política de Classe?

Desde a chegada do proletariado moderno como força social e política, a classe dominante capitalista tem tremido ao pensar no poder latente que repousa no seu colo – o poder não só para reter a força de trabalho e paralisar a produção, mas também para para derrubar completamente o sistema obsoleto de produção não planeada com fins lucrativos.

A Revolução de Outubro de 1917 na Rússia anunciou o início de uma nova era socialista, a era em que os trabalhadores substituirão os capitalistas como senhores da sociedade. Na sua tentativa de adiar o dia mau e agarrar-se ao seu governo senil, os senhores do capital financeiro investiram recursos incalculáveis em todos os tipos de esforços destinados a subornar, coagir, confundir, distrair e dividir a massa de trabalhadores assalariados sem propriedade, na esperança de impedi-los de compreender e cumprir a sua missão histórica.

A tomada lenta mas constante da esquerda ocidental pelo liberalismo e pelas políticas divisionistas e reaccionárias de identidade ocorreu durante décadas em que o marxismo revolucionário tinha sofrido sérias derrotas e atravessava um período de confusão e desordem.

Para encerrar este período de derrota e recuo e reagrupar as forças para o socialismo, o movimento da classe trabalhadora deve ser expurgado da infinidade de ideias anti- Marxistas que se tornaram tão difundidas, colocando a nossa luta mais uma vez sobre uma base sólida. estabelecer e preparar o caminho para um novo e decisivo avanço.

À medida que a pior crise global de sobreprodução capitalista de sempre fica fora de controlo, gerando guerra e pobreza numa escala inimaginável, esta tarefa nunca foi tão urgente.

Este pequeno panfleto de Joti Brar pretende fornecer uma visão marxista das políticas de identidade – o que são, de onde vieram e como estão a afectar o nosso movimento. Ela descreve os principais ramos (feminismo burguês, nacionalismo negro, libertação LGBT+) e coloca-os num contexto histórico e filosófico que visa ajudar os socialistas a afastarem-se dos cardumes à espreita que podem naufragar o nosso movimento e deixar-nos encalhados e indefesos perante o ataque de a crise do capitalismo monopolista e a guerra.

O panfleto também inclui um artigo da nossa presidente do partido, Ella Rule, sobre a natureza do partido comunista e por que o destacamento mais organizado e avançado da classe trabalhadora não pode ter nada a ver com o seccionalismo divisionista do idpol.

sexta-feira, 29 de março de 2024

Inação - como forma de existência da organização “Ação Comunista Europeia

 


Como sabemos, sobre a principal questão do movimento comunista – a atitude face à guerra na Ucrânia – em 2022-23 houve uma divisão entre partidos e até divisões nas fileiras de alguns partidos. Incluindo a Iniciativa Comunista Europeia (ECI, EKI) foi dividida em duas partes, uma das quais, por iniciativa do KKE, anunciou a cessação das atividades da ICE e formou uma nova comunidade - Ação Comunista Europeia (ECA, EKD) . Estes camaradas opõem-se à guerra em geral, argumentando que todas as partes envolvidas são igualmente imperialistas e são igualmente responsáveis ​​pela tragédia que se desenrola. Dizem que há dois anos os povos morrem pelos lucros dos seus senhores

O tom principal da recente conferência da Acção Comunista Europeia em Istambul sobre o tema: “ Dois anos após o início da guerra imperialista na Ucrânia. Conclusões e experiência para os comunistas”, foi questionado pelo representante do KKE –   Solidnet | Partido Comunista da Grécia, Pessoas foram mortas durante dois anos “para que o prato do dono ficasse satisfeito” (solidnet.org)

O RCRP, como partido que defende as posições do marxismo ortodoxo, falou nas reuniões da solidez em Havana e Izmir com um ponto de vista alternativo, que foi apoiado por dezenas de partidos da solidez e outros, não concordou com a dissolução do EKI e considera seu dever responder à continuação, é preciso pensar honestamente, mas a partir disso os erros dos camaradas gregos e dos seus apoiantes não se tornaram menos perigosos.

Infelizmente, somos forçados a notar que o novo bloco de partidos, que se autodenominava Acção Comunista Europeia (ECA, “Acção”), nas suas posições foi distinguido por surpreendente indiferença e inacção em relação ao fascismo cada vez mais desenvolvido na Ucrânia e no Não, não afirmaremos que os camaradas não fazem nada e não lutam contra o capitalismo. Mas fazemos esta avaliação em relação à reacção dos camaradas gregos às críticas já expressas contra eles e aos óbvios erros teóricos cometidos.

Em primeiro lugar, notamos que os camaradas estão persistentemente a tentar reduzir o assunto à injustificada , do seu ponto de vista, invasão das forças armadas russas no território da Ucrânia em Fevereiro de 2022. Eles parecem ter esquecido que a operação punitiva está sendo levada a cabo pelas forças nazistas no Donbass pelo menos desde 2014. Que no início do Distrito Militar do Norte, em 8 anos, esta guerra por parte dos nazistas ucranianos ceifou pelo menos 15 mil vidas do povo do DPR e do LPR, principalmente civis, crianças e mulheres. Além disso, os camaradas que se autodenominam internacionalistas silenciam que estas ações punitivas são levadas a cabo por verdadeiros fascistas, que se autodenominam apoiantes e continuadores dos trabalhos dos camaradas de armas de Hitler - Bandera e Shukhevych. Que não só se distinguiram pela demolição de monumentos a Lénine e aos soldados soviéticos, não só se marcaram com símbolos com suásticas e outros sinais nazis, não só se armaram com os slogans “Moskalyak a Gilyak” e “Um bom moscovita é um moscovita morto!” , mas também queimou vivos em 2 de maio de 2014 em Odessa na Câmara dos Sindicatos, segundo dados oficiais, 48 ​​pessoas. Mais estranho ainda é o facto de os camaradas da “Acção” de alguma forma se terem esquecido e serem inactivos na implementação das declarações adoptadas com a sua participação em reuniões anteriores da “ Solidez” , aqui em Atenas! ( Solidnet | 20 IMCWP, A luta contra o fascismo não é o passado, mas a tarefa de hoje (solidnet.org) )

Declaração do XX Encontro Internacional dos Partidos Comunistas e Operários em Atenas, 23 a 25 de novembro de 2018

A luta contra o fascismo não é coisa do passado, mas uma tarefa de hoje

Os partidos comunistas e operários que participam na reunião apoiam a luta antifascista do povo trabalhador de Donbass, contra a qual o actual regime ucraniano (com o apoio do imperialismo dos EUA e da UE) utiliza todos os meios de repressão, incluindo a destruição física no curso de acção militar aberta e declaram o seu protesto categórico contra o crescimento do nazismo e um compromisso determinado no combate ao ressurgimento da peste castanha.

Ao mesmo tempo, os comunistas sabem que acabar para sempre com o fascismo só pode ser feito acabando com o capitalismo.

Dedicaremos todas as nossas atividades e vidas a esta luta.

Trabalhadores de todos os países, uni-vos!

Proposto pela União dos Comunistas da Ucrânia, Partido Comunista Russo dos Trabalhadores, Partido Comunista Sírio

Partido Argelino para a Democracia e o Socialismo
Partido Trabalhista da Áustria Partido Comunista
da Bélgica
Partido Comunista Brasileiro
Novo Partido Comunista da Grã-Bretanha
Partido Socialista dos Trabalhadores da Croácia
Partido Comunista da Estônia
Partido Comunista da Macedônia
Partido Comunista Unido da Geórgia
Partido Comunista da Grécia
Partido dos Trabalhadores Húngaro
Partido Socialista, Lituânia
Partido Comunista de Luxemburgo
Partido Comunista de Malta
Partido Comunista do México
Novo Partido Comunista dos Países Baixos
Partido Comunista da Noruega
Partido Comunista do Paquistão
Partido Comunista Palestino
Partido Popular Palestino
Partido Comunista do Paraguai
Partido Comunista da Federação Russa
Partido Comunista Russo dos Trabalhadores
Partido Comunista da União Soviética
UCP-CPSU
Novo Partido Comunista da Iugoslávia
Comunistas da Sérvia
Partido Comunista dos Povos da Espanha Partido Comunista
do Sri Lanka
Partido Comunista da Suazilândia
Partido Comunista Sírio
Partido Comunista Sudanês Partido
Comunista dos EUA
União dos Comunistas da Ucrânia

Bem, onde, posso perguntar, está o cumprimento do juramento - dedicar todas as suas atividades e vidas a esta luta? Ou não existem mais fascistas? Eles já reformaram? Ou decidiu, pela pureza das suas construções teóricas, que deixaria os nazis cumprirem as suas promessas de massacrar todos os habitantes do Donbass?

Não podemos concordar com isso.

Em segundo lugar , como já foi observado na discussão anterior, os camaradas gregos rejeitaram a definição científica de fascismo dada pelo Comintern (a definição de Dimitrov ). No entanto, eles não nos revelam sua definição. Na nossa opinião, simplesmente porque não existe. A “ação” aqui é simplesmente ociosa. Mas eles casualmente lembram e censuram o Comintern com as observações: “…. Hoje o movimento comunista é mais experiente, e muitos dos partidos comunistas que rejeitaram a lógica de criação de várias “frentes antifascistas” com a participação das forças burguesas, tiraram conclusões da história, sublinhando que a luta contra o fascismo deve ser inseparável da luta contra o “ventre” capitalista que lhe dá origem” . A declaração é tão sonora quanto vazia. Assim, os nossos camaradas da Acção, sem ainda terem levado a cabo quaisquer acções contra os fascistas vivos, já censuraram Estaline, o Comintern e a União Soviética, que finalmente derrotou os fascistas em 1945, por acções erradas.

E os nossos camaradas da Acção, no calor da luta pela sua primazia e pela maior integridade teórica, continuam a afastar possíveis aliados por não serem suficientemente comunistas: “ Na “ponta da lança”, em detrimento da abordagem de classe Devido aos acontecimentos internacionais, em detrimento dos partidos comunistas baseados no marxismo-leninismo, surgiu uma nova organização internacional sob o nome hipócrita de “Plataforma Mundial Anti-Imperialista” (AMP). A UAP, na qual o papel principal é desempenhado pelas forças social-democratas e por alguns partidos ou grupos comunistas que não têm muita influência sobre a classe trabalhadora dos seus países, ficou claramente do lado dos “ladrões” imperialistas. É assim que se verifica que a luta anti-imperialista, se não estiver sob a liderança dos líderes da Acção, causa danos aos partidos comunistas baseados no Marxismo-Leninismo. Também não partilhamos as avaliações da AMP relativamente à China e à Rússia como apoios do movimento socialista mundial, mas é absolutamente impossível abandonar aliados e até rotular a plataforma como cúmplice do imperialismo.  Esta afirmação é tão absurda que me lembro da piada de Marx de que nesta versão ele não é marxista.

Em terceiro lugar , os camaradas ainda não querem responder à observação de que estão a distorcer a teoria do imperialismo de Lenine, negando o núcleo do seu conteúdo de que “ ...o capitalismo alocou agora um punhado (menos de um décimo da população da Terra, com o cálculo mais “generoso” e exagerado - menos de um quinto) de estados especialmente ricos e poderosos que roubam - simplesmente “cortando cupons” - o mundo inteiro” (PSS vol. 27 p. 308). o perigo hoje vem do imperialismo dos EUA e dos seus aliados no roubo do bloco da NATO, eles professam uma certa teoria de uma pirâmide imperialista, onde todos os imperialistas estão a lutar entre si. Os camaradas declaram mesmo que: “ Os partidos comunistas, baseados no marxismo-leninismo e no internacionalismo proletário, intensificaram a sua luta anti-imperialista”.

O que posso dizer? Os camaradas aumentaram de facto os efeitos de ruído e o fluxo de acusações verbais, mas sem conduzir uma luta direccionada contra o fascismo total e a principal fonte do fascismo - o capital financeiro reaccionário do imperialismo dos EUA, desviam assim a fonte do fascismo da responsabilidade com suas afirmações de que todos os beligerantes são igualmente responsáveis ​​pela guerra. Afirmamos que, por parte da Rússia, as acções militares são em grande parte de natureza forçada e defensiva contra a agressão dos Estados Unidos e da NATO, desencadeada pelas mãos dos nazis em Kiev. A derrota militar e o desmembramento da Rússia, a repetição do destino da Jugoslávia, do Iraque e da Líbia não são de forma alguma do interesse da classe trabalhadora mundial.  

Os camaradas do KKE e do EKD estão justamente orgulhosos do facto de se terem oposto: “ Quando o ND, o SYRIZA, o PASOK e os partidos de extrema-direita no Parlamento Europeu, juntamente com os partidos da “esquerda” europeia, apoiaram o absurdo resolução militar dos imperialistas europeus, apelando a um aumento maciço do apoio militar ao governo reaccionário de Zelensky. O KKE votou contra e condenou este facto. O KKE opôs-se tanto ao envio de equipamento militar pertencente às forças armadas gregas para a Ucrânia como à formação de militares ucranianos . ” Esta é certamente a posição correta. Respeitamos nossos camaradas por isso. Mas, temos de compreender que estes heróicos votos contra e manifestações de protesto são necessários, mas são protestos normais, habituais, de longo prazo e não têm em conta o facto de hoje termos verdadeiros fascistas à nossa frente, e simplesmente vergonha com o facto de que isto é mau, antidemocrático e antipopular, ...quando há uma luta armada contra estes fascistas, é muito fraco. É como um figo no seu bolso. Esta é a verdadeira inação do EKD.

Temos de dizer francamente que esta inacção continua na campanha geral de solidariedade com o povo em luta da Palestina.

O facto de o KKE estar na vanguarda das acções de solidariedade em massa com a Palestina, contra o genocídio do povo palestiniano pelo Estado ocupante de Israel, é certamente correcto e louvável. Mas o facto de os camaradas não quererem ver o facto indiscutível de que o mesmo grupo predatório de imperialistas apoia os nazis ucranianos na Ucrânia e os sionistas israelitas na Faixa de Gaza não é sequer um erro, é o desarmamento ideológico do movimento. Inação inaceitável "Ação".

E a afirmação dos camaradas gregos de que nesta guerra em particular “a UE não está a arrastar-se atrás dos Estados Unidos” parece completamente estranha, de que a afirmação da liderança russa de que os líderes europeus estão “subordinados” aos Estados Unidos não tem base. ”  Esta conclusão é tão absurda tendo como pano de fundo os discursos dos trabalhadores dos países europeus que é até inconveniente contestar. O KKE nega o óbvio – os interesses dos países da UE são abertamente entregues aos EUA. O exemplo da explosão de gasodutos submarinos e da recusa de fornecimento de energia é óbvio. O papel dos Estados Unidos e a sua participação no comércio de gás liquefeito com a Europa está a crescer, as encomendas militares estão a crescer, os trabalhadores da Europa estão indignados, a produção e o capital estão a deixar os países da UE no exterior e a “Acção” está inactiva. .. É claro que existem imperialistas europeus, e hoje estão a receber benefícios, há sonhadores que arrancam um pedaço em caso de derrota da Rússia, há aqueles que já planeiam lucrar com os investimentos na restauração da Ucrânia, mas a contradição desta linha com os interesses dos trabalhadores da Europa é óbvia, para não mencionar o perigo de o conflito se transformar numa guerra realmente grande, até mesmo mundial.

Em geral, os camaradas da Action falam muitas palavras corretas e boas. Eles argumentam, por exemplo: “A classe trabalhadora, as camadas populares na vanguarda com os partidos comunistas e operários devem intensificar os seus esforços contra o envolvimento dos países nos planos imperialistas e nas guerras. Vincular esta luta com a luta pelos direitos modernos dos trabalhadores, questionando o domínio do capitalismo, explorando as fissuras emergentes no sistema capitalista (ed.), o que levará à sua derrubada e à construção de uma nova sociedade socialista-comunista que porá fim à exploração e às guerras. O EKD e as partes nele incluídas são chamados a desempenhar um papel de liderança nesta questão necessária.”

As palavras estão definitivamente corretas. Mas os camaradas não veem e não querem ver as fissuras no campo do imperialismo a serem exploradas. A “Acção” não está apenas inactiva por agora, mas eles também estão a reclamar da sua posição de princípio em relação à igual responsabilidade dos fascistas e das suas vítimas na guerra desencadeada. Eles não querem usar a ajuda de aliados insuficientemente esclarecidos politicamente na luta, incl. Social-democratas. Estes são erros. Não é assim que se derrota o fascismo. O verdadeiro fascismo só pode acolher teóricos internacionalistas que tenham princípios na sua pureza. “Ação” inativa é bastante adequada para eles.

Departamento Internacional do Comitê Central do RCRP
14/03/2024   
Leningrado

sexta-feira, 22 de março de 2024

A UE põe o capacete de guerra e leva-nos para o abismo

 


Ángeles Maestro [*]

Destruição da UE pelos EUA.

Os ventos da guerra estão a abanar a Europa cada vez com mais força.

Depois da mais do que previsível derrota da NATO na Ucrânia às mãos da Rússia, reproduzem-se as declarações do secretário-geral da Aliança, Jens Stoltemberg, e de cada um dos governos vassalos da UE. Como papagaios, repetem que a derrota da Rússia é indispensável para a segurança e a estabilidade da Europa, que a guerra com a Rússia é inevitável e que é necessário preparar-se para ela a curto prazo. A propaganda de guerra mais ruidosa está a ser martelada pelos grandes meios de comunicação social, propriedade das grandes empresas, segundo a qual a Rússia, liderada pelo malvado Putin, vai invadir a Europa.

A realidade é que o imperialismo sionista anglo-saxónico (uma estrutura de poder político, económico, militar, mediático e cultural que representa os interesses da oligarquia constituída pelos grandes fundos de investimento, bancos e multinacionais), com a cumplicidade dos governos da UE, prepara-se para realizar, em solo europeu, o seu objetivo estratégico de mais de um século:   desmembrar e dominar a Rússia, para depois conquistar a China. Chegou o momento, e o tempo urge, em que a crise capitalista atinge mais duramente os EUA e a UE, que vêem os seus interesses, baseados na política da canhoneira, serem confrontados com outro tipo de aliança liderada por um país com enormes recursos e tecnologia avançada de armamento, a Rússia, e por outro que combina recursos e um poderoso desenvolvimento industrial e comercial, a China.

A preparação do planeado ataque da NATO à Rússia, o verdadeiro leitmotiv da criação da Aliança há 75 anos, foi elaborada pelos Estados Unidos desde o colapso da URSS através de três processos:

  • a incorporação na Aliança dos países da órbita da URSS, iniciada por decisão do Presidente Clinton, em violação dos acordos oficiais com a Rússia [1]
  • o golpe de Estado de Maidan, a violação dos Acordos de Minsk, a provocação de Moscovo para entrar na guerra na Ucrânia e o bloqueio das conversações de paz na Turquia em abril de 2022.
  • E, acima de tudo, o cancelamento das históricas e profundas relações económicas e comerciais dos países da UE, especialmente da Alemanha, com a Rússia.

Esta última questão é a grande vitória que o imperialismo anglo-saxónico, representante da oligarquia ocidental, pode obter. A destruição das empresas provocada deliberadamente pela pandemia de Covid, através de um encerramento epidemiologicamente injustificável da economia, foi continuada por decisões políticas obviamente intencionais, tais como

  • o aumento das taxas de juro para combater uma inflação em grande medida criada artificialmente
  • o aumento brutal dos preços da energia, consequência direta da sabotagem dos gasodutos de abastecimento de gás russo barato e de qualidade, perpetrada pelo próprio imperialismo anglo-saxónico e que a UE se recusou a investigar.
  • as políticas «verdes» da UE, que subsidiam as grandes multinacionais com os Fundos de Nova Geração para a transição energética e multam aqueles que não conseguem incorporar a tecnologia controlada por essas mesmas corporações.

O resultado foi a desindustrialização da UE, sobretudo da Alemanha, também acelerada pela deslocalização de grandes empresas europeias para os EUA em busca de custos financeiros e energéticos mais baixos e incentivada pelos subsídios concedidos por Washington às empresas que aí se instalam através da Lei de Redução da Inflação (IRA) [2]. Isso foi acompanhado pela destruição maciça de pequenas e médias empresas com a correspondente centralização e concentração de capital, dirigida e planeada pela UE e executada servilmente pelos governos, ao mesmo tempo que transferaim fundos públicos, os Next Generation, às grandes multinacionais.

São exatamente estas as políticas contra as quais os agricultores, pecuaristas e pescadores protestam legitimamente e que são as mesmas que, com a cumplicidade ativa dos governos e dos grandes sindicatos, destruíram a maior parte da indústria pesada, da exploração mineira, dos estaleiros navais, da agricultura e da pecuária durante a «reconversão» dos anos 1980 e 1990. O grande sarcasmo utilizado como justificação na altura era que tudo isto, juntamente com a adesão da Espanha à NATO, era a portagem necessária para entrar na «Europa», o paraíso dos direitos sociais e laborais. Depois de termos visto em que consiste realmente este Éden, o mantra agora utilizado para justificar as políticas destinadas a engordar os lucros das grandes empresas enquanto destroem as condições de vida da grande maioria dos seres humanos é «a proteção da natureza» que essas mesmas multinacionais destroem.

A economia de guerra: cortes sociais, grande capital e corrupção

Sobre esta Europa em fase acelerada de auto-destruição e mais uma vez vendida pelos seus governos aos interesses de potências estrangeiras (já prestou vassalagem a Hitler e agora ao imperialismo anglo-saxónico), paira de novo a ameaça de uma guerra mundial. Sem qualquer justificação crível – ninguém no seu perfeito juízo pode acreditar que a Rússia atacaria um país da NATO – os dirigentes europeus, competindo entre si em servilismo e estupidez, apelam aos povos a que se «preparem para a guerra».

Enquanto a pobreza alastra nos bairros populares, os despejos continuam a ser executados pelos mesmos bancos que foram resgatados com dezenas de milhares de milhões de dinheiros públicos e os suicídios mostram a face mais terrível do sofrimento humano, os governos da UE, entre os quais se destaca o do PSOE-Sumar, declaram a economia de guerra.

Mas o que é a economia de guerra? A economia de guerra significa que a prioridade absoluta de toda a sociedade é a afetação de recursos à indústria militar, tudo isto quando já em 2023 as despesas militares aumentaram num valor sem precedentes de 25%, atingindo 28 mil milhões de euros, o que representa mais de um terço das despesas públicas com a saúde. Isto significa que as despesas sociais com pensões, desemprego, saúde, educação, serviços sociais, etc., serão ainda mais reduzidas, para serem utilizadas na compra de armamento e material militar. [3] Significa que o complexo industrial militar, os fabricantes de armas e de todo o tipo de tecnologia militar, incluindo a indústria farmacêutica, todos eles empresas privadas, na sua maioria propriedade das grandes multinacionais anglo-saxónicas do sector, multiplicarão os seus já fabulosos lucros. Ao mesmo tempo, os poderosos lobbies da indústria do armamento, que controlam os pontos-chave do poder, terão uma influência decisiva para manter bem alimentada a guerra, a sua galinha dos ovos de ouro, enquanto nos conduzem ao precipício.

Uma confrontação aberta e direta da NATO com a Rússia, que esta provavelmente não seria capaz de suportar sozinha, significaria que, perante uma ameaça direta à sua existência – como o Kremlin já anunciou –, utilizaria as suas armas nucleares. Estas armas nucleares tácticas chegariam aos países europeus, que por sua vez responderiam, levando à utilização de armas nucleares estratégicas capazes de matar centenas de milhões de pessoas. É este o jogo sinistro que estes governos lacaios, os aprendizes de feiticeiro com capacetes de guerra, pretendem fazer connosco.

Tudo isto está inserido num enorme conglomerado de corrupção política, que serve tanto para aumentar os negócios como para estabelecer mecanismos de controlo social que se assemelham cada vez mais ao fascismo.

Por exemplo:

  • A coerção para vacinar com medicamentos experimentais foi precedida, na UE, pela compra de milhares de milhões de doses à Pfizer e a outras multinacionais, decidida, através de contratos ainda hoje secretos, pela presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen. Esta mulher, formalmente acusada de corrupção pela compra de vacinas, é casada com um alto funcionário da Pfizer e o seu filho foi também diretor da empresa McKinsey que concebeu a propaganda mundial para impor a vacinação.
  • A própria Von der Leyen, antes de se tornar presidente da Comissão Europeia, foi ministra da Defesa da Alemanha e ainda está a ser investigada por corrupção. Após as eleições europeias, pretende manter-se no cargo por mais cinco anos para, entre outras coisas, reforçar a indústria militar, nomear um Comissário Europeu da Defesa e para que a UE utilize fundos russos depositados em bancos europeus e bloqueados por sanções para efetuar compras militares conjuntas, uma vez que «precisamos de gastar mais e gastar melhor». As repetidas acusações de corrupção de que é alvo não parecem constituir qualquer obstáculo.
  • A nível local, o governo do PSOE – Podemos, agora com Sumar no Ministério da Saúde e os governos das Comunidades Autónomas apoiados pela esquerda institucional e extra-parlamentar, impuseram as máscaras obrigatórias, sem um relatório técnico que sustente a sua utilidade, enquanto uma rede mafiosa que inclui vários ministérios e governos autónomos, lucrou com a sua venda, com a correspondente cadeia de subornos.
  • A externalização da censura e o reforço do controlo social

Como a história nos ensina, o recurso do capitalismo à destruição e à guerra para governar as suas crises gera situações de desestabilização social que podem pôr em causa os poderes estabelecidos.

Nestas situações, que implicam objetivamente uma agudização da luta de classes, a preparação para a guerra implica um reforço excecional dos mecanismos de controlo social. É o que prevêem o Tratado Pandémico e as Emendas ao Regulamento Sanitário Internacional da OMS, que visam, no essencial, estabelecer o seu diretor como autoridade sanitária mundial com poderes para impor as medidas implementadas durante a pandemia como regras vinculativas à escala global, caso venham a ser aprovados em maio deste ano.

Para além da Lei dos Serviços Digitais, está a ser preparada uma nova reviravolta para reforçar a censura e a manipulação da informação, em vésperas das eleições europeias de 9 de junho. No «paraíso das liberdades», para além da ditadura do dinheiro – só a burguesia tem grandes meios de comunicação – há muito que se passou à restrição de direitos fundamentais como o direito à informação e à liberdade de expressão, utilizando mecanismos de censura coordenados entre os grandes meios de comunicação – já implementados durante a pandemia – e reforçados com a guerra na Ucrânia. Para se ter uma ideia da subjugação das forças políticas, basta referir que a decisão de censurar o Russia Today e o Sputnik na UE, ou a criação em 2022 pelo governo PSOE – Podemos de um Fórum contra a Desinformação liderado pelo General Ballesteros, não provocaram qualquer reação política.

Este ano, 2024, realizar-se-ão três eleições diante das quais, embora possa parecer que a oligarquia tem tudo sob controlo, fala-se em adotar medidas excepcionais.

Na Grã-Bretanha, numa data ainda por fixar, haverá eleições gerais e nos EUA, eleições presidenciais em novembro. A probabilidade crescente de vitória de D. Trump, a rutura de alianças e objectivos que isso poderia provocar, nomeadamente em relação à Rússia, alimenta os rumores de que as eleições poderiam ser suspensas, um acontecimento sem precedentes na história dos Estados Unidos, sob o pretexto de «interferência russa».

Em vésperas das eleições europeias, as elites dirigentes receiam que, à semelhança do que acontece com os agricultores (em Bruxelas, bateram com os seus tractores contra as vedações durante uma reunião do Conselho de Ministros da UE e Macron foi duramente repreendido numa feira agrícola), as organizações políticas que rejeitam a NATO e o aumento das despesas militares ganhem força com a agitação social. Perante este risco, a Europa, supostamente democrática, está a arrancar outra máscara. Uma empresa americana de Silicon Valley, a Meta, proprietária do Facebook, do Instagram e do Threads, prepara-se para exercer controlo e censura nas eleições para o Parlamento Europeu, aparentemente por sua própria iniciativa, mas obviamente com a aquiescência da Comissão Europeia. Sem a menor modéstia, às claras, a Meta conta como se está a preparar para isso [4].

Eis o que ela diz sobre os seus preparativos:

«À medida que as eleições se aproximam, vamos ativar um Centro de Operações Eleitorais para identificar potenciais ameaças e combatê-las em tempo real» (…) «Assinámos um acordo tecnológico para combater a disseminação de conteúdos de IA enganosos nas eleições». Depois de ter intervido em 200 eleições em todo o mundo, afirmam:   «Desde 2016, investimos mais de 20 mil milhões de dólares em segurança e proteção e quadruplicámos a dimensão da nossa equipa global que trabalha nesta área para cerca de 40 000 pessoas. Isto inclui 15 000 revisores de conteúdos que analisam conteúdos no Facebook, Instagram e Threads em mais de 70 línguas, incluindo as 24 línguas oficiais da UE». Para que não restem dúvidas, explicam como funcionam:   «Não permitimos anúncios que incluam conteúdos desacreditados. Também não permitimos anúncios dirigidos à UE que desencorajem as pessoas a votar nas eleições; que ponham em causa a legitimidade das eleições; que contenham alegações prematuras de vitória eleitoral; e que ponham em causa a legitimidade dos métodos e processos eleitorais, bem como o resultado das eleições. O nosso processo de revisão de anúncios tem vários níveis de análise e detecção, tanto antes como depois de um anúncio ser publicado».

Caso alguém se tenha esquecido, as redes sociais são empresas privadas, não são independentes, não são nossas. O que é relativamente novo, o que mostra como os supostos direitos fundamentais estão a ser espezinhados, é que, como aconteceu com a Covid, depois com a guerra na Ucrânia e agora com as eleições europeias, os governos estão a incorporar um empório norte-americano como o Meta nas tarefas de censura e manipulação de informação nas redes sociais que empresas como, em Espanha, maldita.es e newtral – Ana Pardo – La Sexta já estavam a realizar de forma especializada.

Estes mecanismos, que normalmente são efectuados pelos serviços secretos, são agora subcontratados a empresas privadas estrangeiras. Na verdade, os fenómenos, no seu desenvolvimento, mostram a sua própria essência. A UE exprime cada vez mais a sua natureza de burocracia oligárquica contrária aos interesses populares e que, ao serviço de uma potência estrangeira, está decidida a provocar uma guerra mundial. Os povos, quase às apalpadelas, começam a vislumbrar o abismo para onde a oligarquia burguesa os está a conduzir, esperando que surja uma organização política com a força necessária para representar uma alternativa socialista ao capitalismo imperialista, que em todo o caso deve começar com a saída da UE e da NATO. Esta tarefa só pode ser levada a cabo por uma classe trabalhadora – hoje obscurecida e agrilhoada pelo reformismo NATOista, político e sindical – consciente da sua missão histórica de pôr fim ao sistema capitalista que, nos seus estertores, é mais criminoso do que nunca. A nossa vida depende do seu êxito.

O monge: – E não vos parece que a verdade, se é que existe, também se impõe sem nós?

Galileu: – Não, não, não. Só se afirma a verdade que nós afirmamos; a vitória da razão só pode ser a vitória dos homens racionais.

in Galileu Galilei, Bertolt Brecht.

domingo, 17 de março de 2024

Ao governo PS sucede mais uma vez um governo ainda mais a direita.

 

Esta dita esquerda não representa a emancipação da classe trabalhadora, o seu objectivo  prende-se em tentar humanizar o capitalismo, ela está condicionada aos limites do sistema, é necessário uma alternativa política revolucionária, que organize, que eleve a consciência política da classe proletária e a mobilize para os novos confrontos de classe que se aproximam.



 

 

Ao governo PS sucede mais uma vez um governo ainda mais a direita.

O PS e a sua política de direita, foi o principal responsável pela pela nova maioria parlamentar reacionária e pelo aumento eleitoral do fascista Chega.

O agravamento constante do custo de vida, originado pela alta inflação do qual o governo se aproveitou com o seu efeito nos impostos para encher os cofres, enquanto o povo apertava constantemente o cinto, os novos aumentos de salários e das reformas orçamentados para 2024 o governo PS repetiu a doze, não cumprindo a Lei na medida em que estes estão a ser pagos de acordo com o valor médio encontrado, quando o numero inflacionário REAL, sobre os bens de primeira necessidade é muito superior, fazendo lembrar o roubo praticado pelo infame governo P"SD"/CDS liderado por Passos Coelho/P.Portas, a não satisfação do melhoramento salarial e a não  abolição do trabalho precário há muito exigido, a manutenção da alta percentagem de jovens desempregados, a não revogação da Lei (anti)Laboral imposta pela UE/BCE/FMI,bem como a não  revogação da especulativa Lei do arrendamento da autoria da ultra reacionária Assunção Cristas, as promessas de Habitação Pública que mal sairão  do papel, a demora no melhoramento do SNS e  na Educação bem como da remuneração dos seus profissionais, etc,etc. foi tudo benesses oferecidas pelo PS à direita.

Um povo minimamente consciente não vira a sua opinião de um momento para o outro, sabendo que são os seus interesses que estão em causa.

Os crimes de “corrupção, prevaricação e tráfico de influências" que o Ministério Público ainda não conseguiu provar, foi a  gota de água que a direita apoiada pela comunicação social ao seu serviço, encontraram  para alimentar o seu vastíssimo  cardápio demagógico que propagandeavam para de novo tomar o poder,  intoxicando centenas de milhares de pessoas em particular os sectores populares e laboral, que dois anos antes  tinha dado ao PS maioria absoluta bem folgada.

Mas também os partidos à esquerda do PS, tiveram  a sua  responsabilidade na medida em que deixaram práticamente à solta a demagogia da direita e particularmente o Chega, quando estes se referiam a boca cheia em nome dos interesses e direitos sociais dos trabalhadores, à defesa do SNS, da Educação, da Segurança Social, quando são os seus maiores opositores.

Depois de mais uma derrota esta dita esquerda em vez de se sentar e procurar na sua politica reformista as razões dos seus apagões,  não perde tempo em procurar novos acordos e novas alianças para levar à prática a mesma política de conciliação, de paz social no respeito com as regras impostas pela UE/BCE/FMI, que tanto têm prejudicado e roubado a classe trabalhadora como o prova a estatistica que informa que o valor do custo médio do trabalho assalariado está nos 14% o que quer dizer que os salários mais baixos estão ainda pior. ou seja a classe capitalista arrecada para si no caso dos custos médios 86% da riqueza produzida pelo trabalhador, os custos com os salários mais baixos o roubo é ainda maior.

O novo governo PSD/CDS com Chega ou sem Chega será mais um governo anti- laboral, na medida em que o decréscimo económico se acentue, os trabalhadores só poderão esperar o pior, o congelamento dos salários e das reformas, e o aumento da repressão serão um facto. Nesta nova conjuntura política de avanço do fascismo, de crise económica e de guerra, não se compadece com organizações que há muito deixaram de lutar pela emancipação da classe trabalhadora, hoje os seus objectivos para segurar os seus empregos, a sua luta está condicionada ao quadro e aos limites do sistema capitalista, resumem-se a tentar iludir os escravos assalariados de que é possível humanizar o capitalismo, daqui que concluamos que é necessário uma alternativa política revolucionária, que organize, que eleve a consciência política da classe proletária e a mobilize para os novos confrontos de classe que se aproximam.

terça-feira, 12 de março de 2024

Resposta aos camaradas gregos da Acção Comunista Europeia

 


Do editor: continuamos a familiarizar os nossos leitores com as posições e a luta teórica no movimento comunista internacional sobre a questão principal do movimento - a atitude em relação à guerra na Ucrânia. O material de hoje é especialmente valioso porque explica a posição dos comunistas, que estão no epicentro da luta - trabalhando clandestinamente sob o jugo da reacção nazi na própria Ucrânia.

 

Resposta aos camaradas gregos da Acção Comunista Europeia

 Os camaradas gregos fizeram um relatório, Partido Comunista da Grécia - Durante dois anos, as nações morreram pelo lucro dos seus senhores (kke.gr) , ao qual nós, como participantes diretos nos acontecimentos, consideramos necessário responder.

Tal como nos ensinam os clássicos e a história, devemos usar as contradições no campo do capitalismo para os nossos objectivos e interesses de classe, caso contrário não venceremos: todos os recursos administrativos, todos os meios de comunicação, todas as estruturas de poder estão hoje ao serviço do imperialismo mundial. , e a sua principal tarefa é distrair as massas da luta de classes e, se necessário, suprimi-la.

Nesta situação, é de vital importância que utilizemos todas as nossas forças e meios para contribuir para o aprofundamento das contradições no campo do imperialismo e, se possível, para fragmentá-lo em pedaços beligerantes. Mais uma vez, como a história tem mostrado, as guerras imperialistas podem ser usadas para enfraquecer o poder do capital e até mesmo tirar-lhe o poder.

Hoje, na cena mundial, a posição do capital americano ainda é muito forte; domina todo o mundo, embora comece a perder a sua primazia incondicional. Esta tendência pode e deve ser bem-vinda.

Mas nesta fase, este processo não é irreversível, o imperialismo norte-americano ainda pode restaurar a sua hegemonia, e a nossa tarefa é fazer o nosso melhor para contribuir para a queda desta hegemonia.

Sim, os soldados russos, é claro, protegem os interesses do capital russo entre as tarefas que resolvem. Mas, dado que uma parte significativa dos empresários russos está orientada para o Ocidente, esta tese não pode ser considerada absolutamente precisa. E a tese exacta é que os soldados russos estão a lutar pela sua integridade e pela preservação da própria Rússia. Deve-se ter em conta que tanto a primeira como a segunda guerra mundial foram desencadeadas pelo capital ocidental com o objectivo principal: subjugar a Rússia, dividi-la em partes e apropriar-se dos seus recursos.

Foi precisamente esta a razão do avanço da NATO para Leste, contrariando todas as garantias e promessas oficiais, o que, de facto, obrigou a Federação Russa a tomar medidas de emergência sob a forma de um sistema de defesa militar.

Não falemos da preocupação excepcional das autoridades russas com a população de Donbass, embora isso também aconteça. Não insistiremos na luta primária contra o nazismo na Ucrânia, embora isto também aconteça. Enfatizamos que a Federação Russa é um país capitalista e, portanto, não está imune ao fascismo. Mas nesta fase, a Federação Russa está a travar uma guerra defensiva contra os Estados Unidos e a NATO, e não é grande culpa dela que, para as necessidades ofensivas da aliança, a própria Ucrânia tenha fornecido ao Ocidente o seu território e população...

Se os camaradas gregos realmente rejeitarem tanto os pretextos do bloco EuroNATO sobre “proteger a soberania da Ucrânia”, “livre escolha de aliados”, “democracia contra o autoritarismo”, como os pretextos sobre a “ guerra antifascista”, “protecção de Falantes de russo”, “desmilitarização da Ucrânia”, então porquê afirmar que foram usados ​​pela liderança russa para uma invasão militar inaceitável da Ucrânia , se a Ucrânia realmente levou a cabo o genocídio do seu próprio povo no Donbass desde 2014. e ameaçou abertamente a Federação Russa?

Sim, os camaradas gregos têm razão quando dizem que “ a base de um conflito militar é a divisão dos recursos minerais, da energia, dos territórios, do trabalho, dos oleodutos e das redes de transporte, dos pilares geopolíticos, das quotas de mercado ”, mas, pelo menos na fase actual, isto não se aplica à Federação Russa e, sobretudo, aos Estados Unidos, que procura concentrar sob a sua “asa” todos os recursos do mundo - desde a terra aos recursos humanos, para se apropriar de tudo o que foi anteriormente listado para si - tanto russo como europeu . Ou será que os camaradas gregos ainda não notaram que a política dos EUA está a fazer todo o possível para enfraquecer a Europa e expandir o caos no seu território?

Nesta situação, a Federação Russa não procura confiscar os recursos e territórios de outra pessoa (tem abundância própria), mas sim manter os seus próprios.

Camaradas comunistas gregos queixam-se, com razão, da crise no movimento comunista mundial e queixam-se de que esta piorou devido à guerra desencadeada pelos imperialistas. E o mais importante, nem todos os partidos comunistas e nem todos os comunistas adotaram incondicionalmente o ponto de vista do Partido Comunista Grego, que foi a razão para a cessação das atividades de associações comunistas e de trabalhadores individuais por... ordem da liderança de os comunistas gregos.

Sim, muitos partidos dividiram-se nesta base e muitos simplesmente abandonaram o marxismo para apoiar as políticas da UE.

Mas também há partidos que se opõem ao imperialismo ocidental, mesmo que numa aliança temporária com forças pequeno-burguesas, mas antifascistas.

É uma pena, claro, perder companheiros de armas num momento em que precisamos unir forças, mas lembremos de V.I. Lénine disse: “ Antes de nos unirmos, e para nos unirmos, devemos primeiro diferenciar-nos resoluta e definitivamente. Caso contrário, a nossa unificação seria apenas uma ficção, encobrindo a confusão existente e impedindo a sua eliminação radical ” (PSS vol. 4, p. 358).

Os partidos comunistas baseados no marxismo-leninismo e no internacionalismo proletário intensificaram a sua luta anti-imperialista. Devem antes de mais intensificar a luta pela libertação do mundo dos ditames do imperialismo Americano, e já aproveitando a queda da sua hegemonia, dirigir todos os esforços para estabelecer o socialismo - enquanto o capital Russo, golpeado na luta com o Americano, estará ocupado defendendo a primazia com os novos atores emergentes. Não perca tempo para restaurar a ordem em seu acampamento e fortalecê-lo.

Mas para isso é perfeitamente aceitável e necessário usar todas as forças antifascistas e anti-imperialistas na nossa luta.

Nas táticas de combate ofensivas há uma divisão de tarefas em imediatas e subsequentes.

A chegada ao poder da classe trabalhadora sob a liderança dos comunistas é uma tarefa subsequente, final nesta fase da luta; é impossível completá-la sem completar a tarefa imediata. E o mais próximo é a destruição das posições avançadas do inimigo, que é o fascismo americano e ucraniano.

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